Estudo do IDESF mostra que fronteiras brasileiras têm indicadores alarmantes em todas as áreas essenciais

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O índice de homicídios de Paranhos (MS) é de 109,7, quase quatro vezes a média nacional, que é de 27,85 mortes para cada cem mil habitantes. O número de mortes por armas de fogo registrada em 2016 no município foi de 58,51, quase três vezes a incidência de 20,31 registrada no País.

Em Pacaraima (RR), município que está recebendo milhares de venezuelanos, o sistema de saúde efetivou, no ano passado, 113,8 internações hospitalares para cada cem mil residentes. A média é mais do que o dobro da nacional, que é de 51,3 internações.

Soma-se a esse cenário a dependência quase completa de recursos públicos. O repasse de verbas federais e estaduais significa 97,06% do orçamento da prefeitura pacaraimense. O PIB per capita de Pacaraima, que agora acolhe também trabalhadores do país vizinho, foi de R$ 12,3 mil em 2015, dado mais recente disponível, menos da metade da média nacional de R$ 29,3 mil

Os dados alarmantes em relação aos municípios fronteiriços brasileiros fazem parte de um levantamento inédito divulgado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF). Realizado a partir dos indicadores oficiais mais recentes, o Diagnóstico do Desenvolvimento das Cidades Gêmeas do Brasil traz uma radiografia das regiões limítrofes com os países vizinhos.

Cidades gêmeas são os municípios situados na linha de fronteira, seca ou fluvial, integrados ou não por obras de infraestrutura, os quais apresentam grande potencial de integração econômica e cultural. No Brasil, elas são 32 e estão situados nas fronteiras de nove estados.

O estudo fez uma análise dos quatro eixos de desenvolvimento – educação, saúde, economia e segurança pública – e os dados compilados demonstram que a realidade nessas regiões é bem mais dura do que a média nacional.

Os dados mostram que os municípios sul-mato-grossenses apresentam os índices mais graves em vários indicadores. Além de ter o maior número de homicídios e mortes por armas de fogo entre todas as cidades gêmeas pesquisadas, o estado lidera em número de suicídios, também o maior encontrado na região fronteiriça, chegando a 29,25 para cada cem mil habitantes em Paranhos e 20,64, em Bela Vista. A média nacional é de 5,13.

Para o presidente do IDESF, Luciano Stremel Barros, o diagnóstico demonstra uma sequência de situações sociais desfavoráveis. “Há uma correlação desses números, sendo que os dados de violência indicam que toda uma condição social que teria que vir antes – de educação, de saúde e de crescimento econômico – é falha, gerando indicadores preocupantes. Os índices desfavoráveis da saúde, por exemplo, refletem as condições econômica e de educação, também desfavoráveis”, avalia Barros.

Segundo o presidente do IDESF, a falta de perspectiva econômica dessas regiões é fator que leva muitos jovens a ingressarem em atividades ilícitas. “O resultado vem em cadeia: evasão escolar e altos índices de violência, inclusive no trânsito. Em alguns municípios a alta incidência de acidentes com veículos é gerada em situações de fuga, tendo como causa o contrabando”, avalia.

Este é o segundo diagnóstico sobre o desenvolvimento das áreas fronteiriças realizados pelo IDESF. O levantamento de dados das fronteiras foi enviado pelo Instituto para todos os candidatos à presidência da República. “O objetivo é que o estudo seja utilizado como ferramenta para que governos e entidades civis proponham políticas públicas de desenvolvimento para essas regiões esquecidas”, afirmou Luciano Barros. O estudo completo pode ser acessado clicando aqui.

Sobre o IDESF – O IDESF é uma instituição sem fins lucrativos, com sede em Foz do Iguaçu (PR), fundada com objetivo de criar mecanismos para promoção da igualdade e da integração entre as regiões de fronteira, para o fortalecimento das relações políticas, sociais e econômicas e para o combate aos problemas próprios destas regiões, por meio de estudos, ações e projetos e através de parcerias públicas e privadas.

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